domingo, 16 de junho de 2013

NO AEROPORTO

Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja extremamente parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões, pelos quais se faz entender admiravelmente. E o seu sistema.
Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções para com o mundo ocidental e oriental, e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a classificação.
Devo dizer que Pedro, como visitante, nos deu trabalho; tinha horários especiais, comidas especiais, roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples presença e seu sorriso compensariam providências e privilégios maiores. Recebia tudo com naturalidade, sabendo-se merecedor das distinções, e ninguém se lembraria de achá-lo egoísta ou importuno. Suas horas de sono - e lhe apraz dormir não só à noite como principalmente de dia - eram respeitadas como ritos sagrados, a ponto de não ousarmos erguer a voz para não acordá-lo. Acordaria sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a gente, porém nós mesmos é que não nos perdoaríamos o corte de seus sonhos. Assim, por conta de Pedro, deixamos de ouvir muito concerto para violino e orquestra, de Bach, mas também nossos olhos e ouvidos se forraram à tortura da tevê. Andando na ponta dos pés, ou descalços, levamos tropeções no escuro, mas sendo por amor de Pedro não tinha importância.
Objetos que visse em nossa mão, requisitava-os. Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógios de pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e (é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca. Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis - porque me esquecia de dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita ou acusação apressada, sobre a razão íntima de seus atos.
Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para Pedro que ele não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas eram indiferentes à nossa amizade - e, até, que a nossa amizade lhes conferia caráter necessário de prova; ou gratuito, de poesia e jogo.
Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço.
 Reprod. em: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973, p. 1107-1108.

 Este belíssimo texto de Drummond, permeado de graça e lirismo, se presta à várias utilizações em sala de aula.
A começar do título "No Aeroporto", citado no começo e no final da crônica, mas que serve somente de pano de fundo
para o clímax da história, não em forma de catarse, mas delicada e suavemente.
Sugerimos abaixo um plano de aula utilizando este texto.
                                                                                                                                                                                                                                                         
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               
1. TEMA
     Crônica e as Relações Sociais

2. OBJETIVOS 
·         Introduzir o aluno no tipo textual Crônica aos alunos da 7ª série/8º ano;
·         Trabalhar as relações familiares e sociais, bem como a integração entre gerações;
·         Trabalhar a linguagem oral, gráfica, atenção, confiança e a criatividade;
·         Desenvolver a apreensão de mensagem explícita e implícita;
·         Estimular, por meio da interpretação textual, o aluno a inferir sentido.

3. CONTEÚDOS 
·         Linguagem; 
·   Tipologia textual;
·         Noções de tempo, espaço, foco narrativo e personagens;
·         Formação Humana.

4. DURAÇÃO 
A duração da sequência didática será de 5 aulas.

5. RECURSOS 
Textos impressos da crônica, do questionário organizativo da leitura e da interpretação, e da letra da música, apresentação em Power Point.

6. METODOLOGIA
1ª aula
6.1 Entrega dos impressos com o texto e com a letra da música, seguidas da apresentação de vídeo com cenas diversas de aeroportos;

6.2 Música: "Encontros e Despedidas", de Milton Nascimento e Fernando Brant, interpretada por Maria Rita, tocada enquanto o vídeo vai passando cenas de partidas e chegadas dentro do aeroporto;

6.3 Círculo de interpretação: os alunos discutirão sobre quais aspectos do texto mais os agradaram ou surpreenderam

6.4 Entrega do questionário interpretativo: os alunos, reunidos em grupos, analisarão as perguntas do questionário, em forma de fichas organizativas, anotando as respostas, visando organizar a análise de forma coerente e sequencial;

2ª aula
6.5 Socialização: cada grupo elegerá um representante para socializar as interpretações;

6.6 Esquema: após todas as apresentações, novamente em círculo, os alunos discutirão sobre suas descobertas e, conjuntamente ao professor, montarão um esquema de características do gênero narrativo Crônica;

3ª aula
6.7 A partir do tema da crônica, os alunos escreverão individualmente uma crônica sobre algum fato do cotidiano que os tenha emocionado. Esta atividade será feita em sala de aula, contando com o apoio do professor;

4ª aula
6.8 Após a devolução das produções, os alunos voluntariamente lerão alguns textos que serão discutidos em sala de aula e procederão à reescrita. A reescrita deverá ser feita em casa;

5ª aula
7. Avaliação
Cada produção será avaliada individualmente, bem como as fichas organizativas dos grupos e será considerado como critério também a participação durante todo o processo.   

Letra da música "Encontros e despedidas"

Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço, venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também de despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida

                                                                                  Milton Nascimento e Fernando Brandt- 
                                                                                  Disponível em: http://letras.mus.br/maria-rita/73647/

FICHA ORGANIZATIVA

A Ficha Organizativa servirá como um roteiro simplificado, para que o aluno tenha parâmetros para começar a entender e interagir com o texto. 

FICHA ORGANIZATIVA DE LEITURA
Nome:______________________________nº: _______ série:_________________
OBRA:____________________________________________________________
AUTOR:___________________________________________________________
ANO DAPUBLICAÇÃO:_____________________EDITORA:____________________

1.
A partir do título “No Aeroporto”, discorra sobre o que você esperava da história e o que, de fato, encontrou: _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


2. O autor dá pistas explícitas e implícitas sobre as características da personagem Pedro. Aponte-as:
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3.
A história se passa em cenários e tempos distintos. Descreva-os:
Cenários (espaços):__________________________________________________________
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Tempos:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4.
Utilizando também o verso da folha, reconte a história, utilizando referências da música e do vídeo que assistimos:__________________________________________________________
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domingo, 9 de junho de 2013

Escritores fascinantes 

                                                

 Monteiro Lobato foi um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX.Na literatura adulta,Lobato é principalmente um criador de contos regionalistas,um “contador de histórias”caipiras.Porém, destaca-se por ter criado a literatura infantil brasileira.Suas histórias e fábulas,ambientadas no “Sítio do Picapau Amarelo”,têm marcado gerações e gerações de leitores. Como nós,não é mesmo,que crescemos acompanhando e lendo as aventuras de seus curiosos personagens.















quinta-feira, 6 de junho de 2013

Experiências com leitura na infância

FABIANA CANAVESE SMANIA

Minha experiência com a leitura foi iniciada bem cedo,antes mesmo de ter nascido!!Meu pai contou que ficava cantando quando minha mãe estava grávida, pois sempre gostou de música e tocava violão.Minha avó,por parte de pai, lia muitos livros e era apaixonada pela Agatha Christie,cresci ouvindo trechos das suas histórias e como meu pai também sempre gostou de ler,desde cedo tive contato com a leitura.Os favoritos do meu pai eram os gibis,que colecionava desde a infância.
Alguns anos depois que eu nasci meus pais passaram a colecionar livros do Walt Disney,os quais muitos possuo até hoje e estou passando aos poucos para a minha sobrinha ler,ela irá fazer 10 anos.O interessante é que meus pais liam pra mim e depois eu tinha que contar as  histórias para eles.Já na primeira série, passei a ler  e contar as histórias para minhas bonecas , ursos de pelúcia e pouco tempo depois lia para os meus irmãos menores.
A herança de tudo isso é que hoje adoro ler e tenho sempre um livro,ou dois na cabeceira da minha cama mesmo que seja para ler um pouco por dia antes de dormir!!
                                                                                  Abraços para todos!!


GIZELIA APARECIDA DA SILVA MARTINS



Minhas primeiras lembranças em relação a leitura estão sempre relacionadas a minha querida mãe, que apesar de muito pouco estudo, sempre adorou ler. Lembro que ela me sentava sobre a mesa e enquanto realisava seus afazeres domésticos , contava belos contos de fadas, eu ficava encantada , sonhando com aquele mundo encantado. Moravamos ao lado de uma pequena escola e eu ficava na janela observando as crianças irem para a escola e sonhando com o dia em que eu mudesse estar dentro dela.
Quando passei a frequentar a escola tive a sorte de ter uma professora muito especial, que alfabetizava contando história, cantando, enfim encantando a todos. Um fato que foi muito marcante na escola foi quando minha professora mostrou um texto que eu havia escrito, para uma outra professora que o olhou o meu texto  todo riscado na cor vermelha, destacando os muitos erros ortográficos e disse com o maior desprezo  "que horror" e minha professora retrucou, que era para ela ler a minha história e não ficar olhando os erros. Fiquei muito orgulhosa e feliz, me senti valorizada. Enfim meu contado com a leitura e escrita foi sempre maravilhoso.Para mim ler é algo mágico, que nos abre inúmeras possibilidades de viajar, sonhar através da leitura. 

EDNA DE SIQUEIRA SILVA

Minha relação com a palavra começou nas histórias da "roça" que minha avó contava. Cheias de detalhes, cores, sons, surpresas e fantasias, sua fala "inculta" me levava ao mundo das mulas sem cabeça, do saci, da velhinha da lenha e tantas outras histórias que fizeram do meu pequeno mundo um universo! Quanta sabedoria em cada conto...uma lição de moral aprendida sem precisar de imposição de regras. Aos seis anos, alfabetizada por minha mãe, já lia os livrinhos que meu pai fazia questão de comprar para mim. As gravuras ainda estão impressas em minhas memórias e o orgulho dos meus pais ao me ouvirem lendo ainda aquece meu coração. Minha avó era analfabeta, meus pais não chegaram ao quarto ano primário, mas a leitura em casa era quase um ato sagrado. Não tínhamos televisão, nossa vida era simples, mas nossa estante era cheia de livros. Lembro-me de uma coleção de Mitologia Greco-romana que meu pai foi montado aos poucos, fascículos semanais. Era quase como se comemorássemos o Natal uma vez por semana, quando ele trazia o livro para que eu lesse primeiro. Analisávamos a árvore genealógica dos deuses, discutíamos a (duvidosa) moral dos imortais, as fraquezas dos humanos e as guerras deflagradas por qualquer motivo. Meu mundo expandiu-se ainda mais. E assim fui seguindo minha vida de leitora voraz de tudo que me caísse às mãos. Hoje, quando quero levar um texto para a sala de aula, leio-o várias vezes antes, ensaio entonações e gestos, pois desejo que meus pequenos sintam, como eu, a emoção que a palavra bem colocada traz. Se um dia me faltarem a visão, a fala e a audição, me restarão as memórias e os mundos que imaginei e nos quais, certamente, viajarei.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Perfil integrantes grupo 3

EDNA DE SIQUEIRA SILVA (Cursista)
São Bernardo do Campo-SP 

2012
Efetivada há apenas um ano e meio, estou exercendo a docência com (ainda) o mesmo empenho e dedicação. Em 2010, enquanto fazia o curso de formação, deixei uma mensagem, que conservo ao final desta. Trabalho hoje em uma região de manancial, um dos últimos redutos de Mata Atlântica, depredado por seus próprios habitantes, muitos deles meus alunos e seus familiares. Este curso, espero, me fornecerá ferramentas para melhor direcioná-los e para disseminar entre o corpo docente a necessidade premente de acionar mecanismos de preservação, de resgate da auto estima dos moradores e da geração de renda consciente.
2010
Mãe, avó, esposa e filha. Professora de português apaixonada por compartilhar descobertas. Foco de interesse acadêmico: culturas e literaturas africanas. Otimista, um pouquinho atrapalhada com as novas tecnologias, curiosa, motivada, feliz. Complementando, a pedido: sempre gostei de ler e de compartilhar minhas descobertas literárias; adoro gramática, pois para mim é pura lógica (não acham???rsrrs); gosto de aprender sempre, me motiva a experimentação e os desdobramentos que a educação provoca na sociedade; acima de tudo, gosto de gente, de todo o tipo, com qualquer opinião, qualquer inclinação, qualquer contradição. Meu encanto pela natureza humana é que me inclina às Letras. Espero, com este curso, olhar-me no espelho e dizer com orgulho: sou professora!, com a mesma satisfação que percebia em minhas queridas mestras, meus exemplos de generosidade e dedicação. Sinto que o curso me abrirá perspectivas e dará opções para que o exercício da minha profissão seja pleno e eficaz. Pretendo fazer mestrado em Africanidades.

GIZELIA APARECIDA DA SILVA MARTINS (Cursista)
São Bernardo do Campo-SP 

Olá sou professora de Língua  Portuguesa, trabalho há dezessete anos na rede pública, espero aprender muito com esse curso e na troca de experiências com todos vocês. Gosto muito de viajar e atualmente em estar em contato com a natureza. Estou lendo o livro Do Mundo Da Leitura Para A Leitura Do Mundo de Marisa Lajolo.